Olá, tudo bem com você?
Alguns temas são recorrentes em artigos teóricos: matemática de combate, card advantage, tempo, no entanto, um que acho bem importante e que nem sempre é retratado com a relevância necessária é como utilizar a vida como recurso.
Assim como expliquei em um artigo sobre Card Advantage, para entender um conceito, devemos pensar no que ele é, para que serve e claro, aplicações.
Para entender como utilizarmos a vida como recurso, precisamos entender quais são os tipos de recursos: Aqueles que você começa mas não ganha(vida), aqueles que você ganha mas não começa(Tempo) e aqueles que são ambos(Card Economy).
Todos os jogadores começam com 20 de vida, eles querendo ou não, e a menos que você use algo que modifique isso, sua vida só vai abaixar com o tempo, não há regras que dizem que você ganha X de vida a cada Y de tempo. É assim que nasce o conceito de usar vida como recurso, e hoje vamos entender a melhor maneira de aplicá-lo em nossos jogos.
Usar a vida como recurso é aplicado de diversas maneiras durante o jogo, combate, desenvolvimento de base de mana e cartas como anulas ou removals. Cada situação demanda um critério de avaliação diferente, tanto de acordo com a matchup quanto de acordo com a jogada específica.
Vamos dizer que você está jogando de UW control no Modern, um deck cheio de removals e anulas e que geralmente tem uma certa dificuldade em terminar partidas pela pequena quantidade de kill conditions. A maior diferença entre um Supreme Verdict e um Path to Exile é que o veredito consegue limpar mais de uma criatura enquanto o path sempre dará alvo em apenas uma ameaça. Com isso em mente, você deve direcionar o seu jogo para matar o maior número possível de criaturas com o veredito sem correr o risco de “ser pego de calça curta” e morrer do nada enquanto espera o melhor momento para soltar a cólera. Como você sabe que é o melhor momento para liberar sua ira no campo de batalha?
A primeira coisa a se pensar é o Clock, com quantas fases de combate a mesa do seu oponente finaliza a partida? Se a mesa tem 2 criaturas 1/1 você não se sente inclinado a dar o veredito, mesmo sendo um 2 pra 1 a seu favor, enquanto uma mesa com um Scavenging Ooze 6/6, mesmo sendo 1 pra 1, é um bom momento de soltar a cólera. A quantidade de dano gerada pela mesa do oponente é mais importante que garantir múltiplos pra 1 com sua cólera.
Seu deck tem cóleras e counters, use isso a seu favor! Geralmente, jogando com o deck agressivo, a maneira de forçar a cólera é colocar criaturas em campo e obter o máximo de valor(no caso dano) possível com elas. Se seu deck tem spot removal e counters, você pode forçar o oponente a desacelerar o desenvolvimento de mesa com medo do sweeper, dar o spot removal na única ameaça e anular a ameaça subsequente, transformando o plano do oponente em seu.
A outra maneira de abusar da sua vida é através de seus anulas, você está a 7 de vida e seu oponente faz um Boros Charm, se você não anular não quer dizer que estará morto, né? No entanto, não anular o Charm quer dizer que qualquer burn de 3 de dano te mataria, te obrigando a anular praticamente todas as próximas jogadas do oponente. Todavia, se você anular o Charm, sua vida continua a 7, significando que você pode deixar os próximos 2 burns de 3 de dano resolver para só aí ter que se preocupar em anulá-los, maximizando seus recursos, vida e tempo.
A fase de combate é a chave quando falamos de vida como recurso, a maior parte das trocações serão feitas aqui, tenha em mente suas prioridades para não desperdiçar o seu recurso mais importante: a vida. A vida é como seu Rei do Xadrez, você pode fazer jogadas arriscadas, trickar o oponente, mas nada disso vai significar nada se seu Rei é derrubado.
Falamos sobre o conjunto de Anulas+ Removal, que torna, de certa forma, o cálculo mais fácil. Quando estamos com um deck que usa apenas bloqueadores e spot removal para lidar com a mesa, a primeira coisa que devemos ter em mente é o deck do oponente, é um deck que usa exclusivamente a fase de combate para finalizar a partida? Tem alcance(Burns)? Existe alguma maneira de ele me matar do nada(Temur Battle Rage, Become Immense, Fling)? Imaginando que seu oponente é um aggro convencional sem reach, como o Humanos do Modern.
Você está de Jund, tem um Abrupt Decay na mão e nenhum bixo em campo, a mesa do oponente tem um Meddling Mage 3/3 nomeando Fatal Push e mais nenhuma criatura em campo, você está a 12 e ele está te atacando. Cada ataque aqui remove 1/4 da sua vida, soltar o Decay agora te deixa safe pra comprar alguns blanks e não sofrer por estar com pouca vida, no entanto, seu deck tem uma grande quantidade de cartas que lidam com esse Mage 3/3(Trophy, Raio, Bloodbraid, Pulse, Liliana, Ooze) mas nem todas lidam com um Mantis Rider, se você preserva a vida dando o removal, compra algo que não tem muito impacto e toma o Mantis na volta, suas respostas se tornam ainda mais limitadas, tornando a situação em um Tem Daze, Tem Daze, como a situação envolve outs do seu lado e do lado do oponente, é bem importante conhecer sua lista e a dele para tomar a decisão com maior chance de vitória.
Alguns conceitos de vida por X foram consolidados ao longo dessas quase 3 décadas de Magic. Necropotence nos mostrou que comprar uma carta vale sim 1 de vida , Mana Phyrexiana nos mostrou que 2 de vida vale pelo menos uma mana e as Fetchlands nos mostraram que 1 de vida vale sim o shuffle effect e correção de manabase.
Alguns decks são criados para abusar deste co nceito, os mais famosos são os Suicide decks e o Death’s Shadow.
O deck é baseado em perder vida de maneira rápida e massiva para habilitar os Death's Shadow.
Começos como cyclar 2 aparições, Fetch, Shock, Seize habilitam fazer pelo menos um Shadow turno 2 e , quem sabe, bater 7 ou mais no turno seguinte.
É claro que o deck não é centrado apenas em jogar vida fora e simplesmente morrer para topdecks ou sequências de seus adversários. Cada jogo vai variar com as cartas da sua mão, o deck do oponente e as coisas que você pode comprar. Muitos oponentes deixam de bater no Shadow para não deixá-lo a menos de 13 de vida, enquanto isso é uma estratégia importante, não é todo jogo que será válida, e como piloto do deck, você tem que aproveitar quanto seu oponente te dá essas aberturas(não te bater quando você não tem Shadow na mão), mesmo com o Avatar em campo não sair estourando fetches para shocks de maneira desnecessária para acabar morrendo para criaturas que poderiam ter sido contidas ou forçadas a chumpblockar o Shadow que cresce todos os turnos.
Criar para o oponente a ilusão de que você sempre perderá mais vida no seu próximo turno acaba forçando algumas linhas de pensamentos unortodóxas do lado de lá, geralmente te dando vantagem.
Como sempre, vamos para o TL;DR(que acaba sendo bem longo também):
- Toda vez que cogitar perder vida para algo que seja opção sua, pense: O recurso que estou ganhando vale mais que estes pontos de vida? Desta maneira você cria um pequeno atalho mental para facilitar decisões midgame.
- Pagar vida geralmente gera vantagem de mana, seja ela imediata(fazer um 8/8 por 1 mana no caso do shadow, pagar 1 mana e 4 de vida para um Dismember ou gerar mais cores devido à shockland que você colocou de pé em campo) ou ao longo dos turnos(tomar mais dano agora mas impedir o oponente de fazer mais criaturas com medo de uma cólera).
- O combate é onde você geralmente usará sua vida como recurso, a diferença entre tomar o dano, trocar criaturas e chumpblockar é apenas o quanto você precisa dos seus pontos de vida/o que dá pra fazer com esse tempo ganho em não tomar dano neste turno.
- Jogue para frente, anular uma criatura ou Burn agora pode não parecer relevante, mas os pontos de dano se acumulam e se livrar de alguma coisa com 3 de poder pode não parecer muito quando se está a 15 de vida, mas esses 3 de poder viram 9 de dano ao longo de 3 turnos.
- Tudo deve ter um propósito, se seu deck é baseado em uma estratégia “suicide”, entenda quais momentos você pode trocar vida por outros recursos para não acabar morrendo para apenas 2 ataques de pequenas criaturas ou se colocar numa situação onde o clock muda a favor do adversário.
- Gastar vida deve estar direcionado à obtenção de outros recursos, na maioria das vezes você toma dano em combate para não perder seus atacantes, ou gasta um anula para não precisar jogar sua cólera fora.
- Use os pontos de vida do oponente como recurso! Force o máximo de dano que der com suas criaturas antes de fazer mais, demandando resposta pras cartas que já estão na mesa agora e pras que virão em seguida.
É isso galerinha, espero que tenham gostado, deixe nos comentários aqui embaixo sobre o que vocês gostariam que fosse o próximo artigo teórico e até semana que vem!
Ele já fez, comentou sobre draws do oponente, e como deduzir algumas coisas, e como atrapahar o oponente, como drar draw e embaralhar sua mão para o oponente não saber se voce jogou a carta que comprou, e outros exemplos. Só procurar.