Olá! O tema do artigo de hoje aqui na LigaMagic é Montagem de Deck Inteligente (do inglês "Smart Deckbuilding") um conceito importante para as nossas decisões sobre listas de baralhos, que mesmo utilizando-se de exemplos mais atuais, pode ser muito útil quando aplicado para definir a escolha para um torneio, dar os primeiros passos em formatos novos ou ao analisar um baralho ainda desconhecido ou em processo de evolução.
Ele não se refere exatamente a um tipo de estratégia específico (Aggro, Control, Midrange, Combo) tampouco a uma "receita de bolo", com fórmulas pré-definidas, e é mais um manual de boas práticas que otimizam as escolhas dos baralhos tornando-os mais sinérgicos, consistentes, redundantes e menos propensos à poderosa variância natural do Magic: the Gathering.
Um dos pontos onde é mais simples de se observar Montagem de Deck Inteligente é em pequenas escolhas individuais nos baralhos, geralmente com cartas que melhoram quando em conjunto umas das outras ou evitando cartas que ativamente impedem as outras de funcionarem quando deveriam, conhecidos como "nombos".
-
Tarmogoyf e a mecânica Esquadrinhar não costumam se dar bem juntos, já que o icônico Lhurgoyf quer diferentes tipos no cemitério para ficar grande. Logo, não o vemos jogando com Tasigur, a Presa de Ouro ou Pescador Grumag, da mesma forma que cartas com Delírio (Atravessar Ulvenwald, Esfolador Macabro) pertencem ao seu próprio sub-arquétipo de Death's Shadow, geralmente 4C/Delírio quando comparado com um clássico Grixis Shadow.
Gaddock Teeg e não-criaturas de custo 4+ ou X também não funcionam juntos, e é um "nombo" muito presente em alguns baralhos Legacy que o usam como alvo da caixa-de-ferramentas de Zenite do Sol Verde ou mesmo em alguns aggros no Modern de Companhia Agrupada (aceitando a desvantagem já que em algumas partidas ele é simplesmente devastador). Trasgo Colecionador e Frasco do Eter é outro "nombo" clássico do Modern.
Vimos muito desses "nombos" também presentes no Historic, com Jaula do Escavador de Tumulos sendo a peça de "hate" mais importante do formato, e que baralhos com Companhia Agrupada e Uro, Tita da Ira da Natureza costumeiramente utilizam em suas reservas. Claro que eles são justificáveis, já que geralmente são capazes de criarem um efeito muito mais devastador no lado oposto do campo em comparação com a sinergia própria que desabilita, mas é sempre importante ter ciência desse gargalo no deck para não ser surpreendido em um momento-chave durante partidas importantes e torneios.
-
Algumas ferramentas que exemplificam as boas práticas de montagem, aumentando a consistência dos baralhos: terrenos com habilidades que geralmente permitem combater ao mesmo tempo a zica (fazendo um terreno que gera mana) e o flood (dando uso para o excesso de terrenos na mesa).
Caverna Mutavel e outras Manlands ajudam a curvar no começo, e depois começam a visitar o combate (inclusive jogando bem em volta de remoções feitiços e globais). Os Castelos de Eldraine são maravilhosos em suas respectivas cores, sendo costumeiramente maximizados nos decks monocoloridos mesmo em formatos de nível de poder mais alto como o Pioneer. Os duplas-faces como Despertar de Agadeem dispensam comentários, atuando literalmente como uma mágica relevante (e até desejável de jogo tardio) quando seus serviços de mana já não são mais necessários. Terrenos com Reciclar como os Triomas de Ikoria e os duplos-amigos de Amonkhet fixam as cores no começo, e depois podem ser trocados por um novo card aleatório do topo (e de brinde, contam com tipos de terrenos básicos, jogando de forma inteligente com Castelos, Checklands e Fetchlands).
Alguns dos baralhos mais consistentes e poderosos que passaram pelo Standard recente aproveitavam-se desses conceitos ao limite. O banido Temur Reclamation seria o garoto-propaganda da Montagem de Deck Inteligente, sendo um baralho que jogava com 29-30 terrenos, mas aproveitava-se de vários Castelo de Vantreza, Trioma de Ketria, Templos e Zona de Explosao para ter ação mesmo comprando muitos terrenos, ao mesmo tempo que a alta quantidade de terrenos no deck possibilita Expansao // Explosao, Uro, Tita da Ira da Natureza e não perder terrenos nas partidas de mais atrito.
Muitos lembram da jornada do Temur Reclamation no Standard antes de seu banimento por causa do alto nível de poder, dificuldade de interação por parte do oponente e diversos planos alternativos, mas o fator que o elevou a um nível além era sua consistência, de nível totalmente invejável. Mesmo que perdesse alguns jogos, era muito raro perder para si próprio, tendo acesso a tantas formas de mitigar zica e flood ao mesmo tempo, e conseguindo ao menos sentar-se para uma partida de Magic em muitos jogos onde outros baralhos simplesmente comprariam 2 ou 12 terrenos e morreriam.
O Mono Black Aggro do Pioneer também utiliza-se de alguns desses conceitos, apesar de menos intensos do que no Temur Reclamation e mais focados em seu próprio plano de agressão. A base de mana de 24 terrenos faz-se necessária para chegar em Rankle, Mestre das Pecas e Prole do Pandemonio, mas ao mesmo tempo praticamente todo o deck é de curva 1 e 2.
Castelo de Locthwain e Caverna Mutavel ajudam a chegar nessas manas mais avançadas sem floodar, ao mesmo tempo em que praticamente todas as criaturas de menor custo dão uso para as manas excessivas de cada turno ao ativarem suas habilidades (Errante Medonho, Parasita de Sucata, Cavaleiro da Legiao de Ebano e Campeao Banhado em Sangue.
O Mono Green Food do Standard atual é um outro ótimo exemplo de boas práticas de montagem de deck. Na lista acima, ao abrir mão de Simbiose de Virapau, tornou-se possível jogar com 75 permanentes "buscáveis", potencializando a Trilha de Migalhas, assim como maximizando as florestas para um Castelo de Pontegaren mais vezes desvirado. Ao optar por um número altíssimo de criaturas, O Grande Circulo e a Vivien, Protetora dos Monstros também ficam ainda mais fortes.
A escolha por Brontodonte Destruidor ao invés de Esmorecer ou Destruidor de Gemas também joga na mesma premissa, permitindo uma criatura que entra em jogo com marcador +1/+1 e comprando carta para fazer o efeito de destruir, bem como sendo buscável com o -2 da planeswalker verde.
Já o Gruul Adventures do Standard possui seus próprios "nombos", como o fato de jogar com algumas cartas que sinergizam bem entre elas (Estalajadeiro de Beiramuro + Aventuras, Elemental das Queimadas + Passagem Fabulosa/Terras em Desenvolvimento), mas que não necessariamente atuam bem juntas. Outro ponto que pesa contra o baralho são as várias listas que usam remoções como Profecia de Fogo no deck principal, diminuindo a quantidade de criaturas e consequentemente piorando Brasolamina e O Grande Circulo.
Entretanto, a lista acima do Urlich consegue minimizar o dano de alguns desses problemas - ao utilizar Cavaleiro de Rochabeira // Carga do Pedregulho, as criaturas com aventuras aumentam para 11, potencializando Estalajadeiro de Beiramuro e melhorando a curva no primeiro jogo, onde a agressão é mais importante. Da mesma forma, o +2/+0 funciona bem com os dois artefatos míticos centrais à estratégia.
Os terrenos-mágicas de dupla-face também oferecem um excelente ângulo para o plano híbrido de Aggro/Midrange do Gruul, oferecendo medidas preventivas ao flood com Mamute de Kazandu e Esmagamento de Quebra-cranio como mágicas, mas ao mesmo tempo permitindo até 30 fontes de mana dependendo da lista para ajudar a curvar Vivien, Protetora dos Monstros e outras cartas pesadas.
-
É importante notar, entretanto, que a Montagem de Deck Inteligente é um conceito que nem sempre permeou o Magic competitivo, e mesmo nos dias de hoje segue evoluindo e aperfeiçoando-se. Tomemos como exemplo o baralho a seguir, campeão de um torneio Master disputado na extinta Magic-League no formato Extended em Janeiro de 2008, utilizado por esse mesmo colunista que vos fala quase 13 anos depois:
Chega até a ser difícil de acreditar como essa lista de Red Deck Wins ganhou algumas rodadas - imagina então faturar o caneco de alguma coisa. Várias das cartas escolhidas não apenas não "sinergizam" entre si, mas ativamente afetam a eficiência umas das outras! Lavamante Implacavel exila o seu cemitério, diminuindo seu Tarmogoyf e tirando Ringue dos Barbaros do Limiar. Da mesma forma, Raio de Fogo é exilado após o segundo uso, e ele próprio não quer ser exilado pelo Lavamante. Mesmo assim, as cartas ainda detinham relativa sinergia entre elas, todas objetivando agressivar e jogar queimas nos bloqueadores e oponente, e para o nível de poder dos outros decks da época, conseguia apresentar um jogo aceitável.
Para fechar, vamos de Sligh, um deck que ao mesmo tempo em que revolucionou a forma com que o Magic era jogado, demonstrando conceitos fundamentalmente universais nos dias de hoje como Curva de Mana e no que acabou evoluindo para a "Teoria do Fogo" de Zvi Mowshowitz, também é um exemplo de práticas nada inteligentes em sua montagem.
Goblins of the Flarg é um poderoso 1/1 por uma mana com travessia de montanha que é sacrificado caso seu controlador possua algum anão no campo de batalha - e a lista conta com vários deles, como o também poderoso 1/1 por uma mana sem habilidades Comerciante Anao e o algo mais interessante Dwarven Lieutenant.
Como dito anteriormente, alguns "nombos" são aceitáveis quando falamos de cartas que vão ganhar o jogo sozinhas caso fiquem na mesa, mas imagina só que mais de 20 anos atrás a recompensa do "nombo" no baralho era um mero goblin 1/1 travessia de montanha por uma mana!
E quanto a vocês, leitores, como enxergam o conceito de Montagem de Deck Inteligente? Algum tópico que gostariam de acrescentar? E em relação aos baralhos, quais que contam com esse tipo de escolha lhes chamam a atenção? Algum exemplo próprio onde já sofreram na pele com "nombos"? Compartilhem suas opiniões nos comentários!
Abraços e até a próxima!

