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Hora do Pauper - Banimento não é a solução
Analisando algumas características fundamentais do formato
01/09/2021 10:05 - 8.836 visualizações - 37 comentários
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E aí galera, tudo bem? Aqui quem vos escreve é o Heli e hoje venho trazer uma análise porque o banimento não me parece ser a melhor ferramenta para consertar o formato. Esse é um artifício usado desde sempre pela WotC para resolver problemas dentro dos formatos. Porém, uma característica difere o Pauper dos outros formatos, quando se trata dessa solução: DESENVOLVIMENTO. Como vocês sabem, o formato surgiu em 2008 derivado de uma série de eventos de Pauper Standard, ou seja, não houve uma análise ou consideração para a criação dele por parte da WotC. 
 
Não que isso seja necessariamente um problema, até porque o Commander está aí para nos mostrar que não é obrigatória a presença da WotC para que um formato nasça, porém o Pauper traz um detalhe fundamental: somente usar cartas comuns. Sua característica elementar é onde reside a maior dificuldade em balancear seu power level e fazer com que o formato continue saudável e interessante com as adições ao longo do tempo. Temos claramente uma divisão temporal que afeta as cartas disponíveis, pois a maioria das opções relevantes do formato é antiga e são staples de Legacy e Modern, algumas até banidas nesses formatos. Talvez a criação do Modern em 2011 possa ter afetado a evolução das cartas comuns, pois o formato demandava um jogo proativo, forçando que opções melhores continuassem aparecendo. Para que isso fosse possível essas cartas tinham de ser de outras raridades, pois seriam adicionadas via Standard
 
É claro que a unificação do tabletop e do digital (aka Pauper IRL e Pauper MOL) ajudaram a termos apenas um formato, evitando inúmeros problemas, já que o Pauper estava aumentando muito em popularidade, podendo até te levar ao Pro Tour (Champioship atualmente). No fim das contas o sancionamento acabou por se mostrar controverso ou até incoerente, considerando o pouco que o formato evoluiu em dois anos. As novas edições do Standard pouco adicionam ao formato, já que as comuns precisam ser balanceadas, por um formato Limitado equilibrado. Com isso, dois tipos de produtos acabam sendo fonte de adições ao formato: decks/edições de Commander e edições Master
 
Decks/edições de Commander: Desolacao Fumegante é um grande exemplo de adição vinda de um deck de Commander. No entanto, os decks atuais tem procurado seguir temáticas das edições do Standard, já que eles têm sido lançados em conjunto. Essa é uma postura que acabou mudando o foco dos decks, fomentando ainda mais a venda deste produto entre os apreciadores do formato, que hoje é o mais jogado e explorado pela WotC. Porém, Commander Legends veio com uma ideia diferente, que acabou combinando melhor com o que esperar ver em cartas comuns, principalmente em termos de mecânica. Claramente não houve uma preocupação com o que seria adicionado (Cair em Desgraca foi tarde!), mesmo o formato sendo sancionado e com uma base de jogadores em crescimento, sempre ávidos em produção de conteúdo e disseminação de ideias. 
 
Edições Master: a maior fonte de adições ao formato, que tende a sair anualmente, sempre teve o foco em formatos eternos. Entretanto, isso tem mudado para o desenvolvimento de um formato Limitado mais coeso, o que também potencializa a venda do produto. Essa mudança de postura diminui a oferta de cartas e aumentou o power level, mas não de forma equilibrada, criando situações frustrantes dentro do formato Pauper. Claramente não levar o formato em consideração durante o desenvolvimento das cartas, tem afetado negativamente o metagame e consequentemente a motivação dos jogadores em procurar inovar ou colaborar com o desenvolvimento de decks.
 
Avaliar as últimas edições Master ficaria muito longo, então vamos nos focar na mais recente (e mais polêmica também) que é Modern Horizons 2. A edição trouxe duas mecânicas relevantes, pois já são fortes no formato: Afinidade por Artefatos e Rajada
 
- Affinity sempre foi um deck presente no metagame e, por mais que tivesse recebido algumas boas opções ao longo do tempo como Poco das Bruxarias, nada chega perto de Companheiro do Visitante e o ciclo de terrenos duais indestrutíveis. Elas são tão relevantes que fizeram o Affinity voltar a surgir no Modern, mesmo que de forma discreta. Isso mostra o quão absurdas elas são, pois esse arquétipo havia sumido desde que os terrenos artefatos originais de Mirrodin foram banidos. No Pauper, essas adições fizeram com o deck se tornasse muito mais consistente e rápido, sendo que em boa parte dos jogos é possível colocar múltiplas criaturas 4/4 em campo. Outro ponto é que um dos grandes focos dos hates contra o Affinity eram seus terrenos, já que apenas a Cidadela de Aco Negro não poderia ser destruída, situação que foi revertida com a entrada dos terrenos duais, que possuem apenas o drawback de entrarem virados.
 
- Rajada é uma habilidade muito forte do Magic que fez parte do formato nos seus primórdios, Esvaziar os Viveiros, Metralha e Fissura Temporal se mostraram fortes demais, ainda mais por estarem na base Ux, polarizando o formato ou até criando decks quase imbatíveis. Atualmente temos nove cartas com a mecânica de Rajada, mas até então apenas Violando os Tumulos era comum de aparecer, em vários arquétipos inclusive. A grande dificuldade para lidarmos com essa habilidade no formato é a falta de resposta, já que não temos grandes opções para descartes, que proíbam a quantidade de mágicas por turno ou que aumentam seus custos. Sendo assim, o Squirrelstorm acaba não tendo formas efetivas de parar seu combo, principalmente no primeiro jogo, gerando situações em que, se for combar até o terceiro turno, não haverá respostas do oponente. Antes do Squirrelstorm aparecer tínhamos um combo de Goblins (que eu falei um pouco aqui) que dependia do Primeiro Dia de Aula, porém ele era um deck justo por ser dependente de criaturas para combar, além de uma mágica que era facilmente anulada.
 
Para ilustrar melhor o momento que o metagame do Pauper está, segue abaixo uma planilha com dados extraídos de um arquivo alimentado pela comunidade que contém os resultados dos Challenge do MTGO:
 
 
 
 
Esses dados foram compilados desde o Challenge do dia 05/06/21, que foi o primeiro final de semana em que as cartas de Modern Horizons 2 estavam válidas, e contempla 21 eventos. 
 
Várias análises podem ser feitas com base nesses dados, mas vamos ver as mais significativas:
 
- As duas mecânicas que eu citei terem sido adicionadas por Modern Horizons 2 estão presentes nos dois decks com maior presença no metagame, e isso não é por acaso. Affinity e Rakdos Storm (ou Squirrelstorm) são presença certa em todos os eventos do formato, além de estarem em quase todos os top8. Mais do que avaliar se estão ganhando os eventos ou não, pensar que apenas dois decks representam 47% de um metagame é algo que realmente mostra uma fragilidade do formato ao receber adições. Em terceiro e quarto lugar temos as versões de UB, que acredito que podemos considerar apenas uma só, pois os decks são similares e usam a mesma base de cartas, tendo uma presença de 18% no metagame. A base Ux sempre foi sólida e demorou várias semanas para se adaptar ao metagame, por isso voltou a fazer resultados significativos, principalmente por sua resiliência e consistência, conseguindo roubar jogos quando Affinity e Storm acabam falhando no seu plano de jogo principal.
 
Pensando em linhas gerais, estamos presenciando um metagame em que três decks representam 65% do total! Em formatos menores como Pioneer e Standard, já temos problemas quando algum deck chega a 20%, mas em formato eternos, quando um deck passa de 15% a saúde do formato já é questionada, e com razão. Formatos amplos tendem a oferecer muitas opções, então é mais difícil ter um metagame saudável com três dominantes dessa forma. 
 
Então a melhor solução é o banimento de cartas desses três decks, correto? Não, não é, apesar de ser uma solução, não vejo como a melhor ação a ser feita pelo formato. Hipoteticamente, caso algo similar aconteça, voltaremos à situação que estávamos após o banimento de Cair em Desgraca. Ele não era necessariamente ruim, mas voltamos a velhas discussões como banimento no Tron, que a base Ux é muito forte, que o formato precisa de uma base de mana mais eficiente para os decks aggro e etc. Ou seja, não resolve o problema fundamental do formato, que é o DESENVOLVIMENTO
 
Eu sei que é uma questão complexa e algumas variáveis podem não ser levadas em consideração, pois algumas delas só são de conhecimento da própria WotC, mas quero focar aqui em ver o formato tendo um mínimo de atenção na concepção da validade de suas cartas. O fato de ter nascido em caráter informal pela comunidade fez com que ele não fosse pensado e avaliado, como o Modern e o Pioneer por exemplo, que possuem uma linha de corte. Além disso, pensar num formato que apenas uma das raridades é válida me parece algo que realmente precisa de uma certa adaptação, pois temos o único formato sancionado nesse molde. A realidade é que o formato já está há tempos “respirando por aparelhos”, já que ele só chama atenção quando situações similares acontecem e algum banimento é feito com critérios unilaterais ou quase nenhuma avaliação mais ampla do metagame.
 
Essa falta de desenvolvimento está levando à um formato chato, em que nenhum horizonte de melhora é visto. Se faz necessária uma reestruturação, não somente de cartas, mas de diretrizes: o que o formato tem? O que o formato pode fazer? O que queremos que o formato faça? 
 
Essas questões fundamentais não parecem ter resposta atualmente. A realidade é que o formato não nasceu pela WotC, e sim foi adotado, e tem sido mal gerido, já que a ideia apresentada pela empresa para todos os formatos sancionados é trabalhar para que ele tenha ferramentas e possa ser aproveitado pela comunidade.
 
Bom, esse artigo foi dividido em duas partes e nessa eu procurei apresentar um quadro geral do formato em geração a proposta da WotC. Na próxima parte eu quero explorar como eu acredito que isso possa ser feito, não de forma utópica, mas sim com baixo investimento e sem grandes adaptações nas equipes responsáveis da nave mãe. Eu acho que o maior desafio é o estudo de opções e só vejo isso sendo feito de duas formas: nomeação de algum desenvolvedor próprio para isso ou criação de uma parceria consultiva com jogadores profissionais e/ou produtores de conteúdo. E outro ponto é o downgrade digital: porque afetar os formatos tabletop se o Pauper já tem uma base online forte? Não vejo como o preço seria uma barreira de acesso para esse tipo de iniciativa.
 
O que acharam da análise? Concordam com ela ou acreditam que outros pontos são mais problemáticos do que estes que citei? Além disso, o que mais acham que poderia ser uma forma de tornar nosso formato mais saudável e cada vez mais acessível? Galera, vou ficando por aqui e espero que tenham gostado da análise. Um abraço a todos e até mais!
Heli Mateus ( helimateus)
Heli Mateus conheceu o Magic em 1998, mas começou a jogar em 2015 quando conheceu o
formato Pauper. Hoje é entusiasta do formato e produtor de conteúdo, principalmente como
podcaster sendo cohost do RakdosCast.
Redes Sociais: Facebook, Instagram, Twitter
Comentários
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- 08/09/2021 12:15:52
A Wizard já deixou claro que não considera o pauper quando está construindo as coleções, isso interferiria muito no limitado... Eu deixei de jogar pauper, pois o formato á bem engessado, antigamente ainda dava para apostar em algo diferente e tentar pegar os jogadores no efeito surpresa, além disso, eu jogo de jogar com aggro, só que só possível ganhar se no turno dois vc descer quatro Burning-Tree Emissary, de resto uma criatura não dura nem um turno na mesa, se consegue dibrar os counters... que tristeza...
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- 07/09/2021 11:54:45
Tudo que o pauper precisa e é de uma price of progress e uma com o efeito duma hushbringer
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- 07/09/2021 09:50:07
Eu concordo! Não precisa de bans e sim de respostas para esses decks, e um cuidado da wotc com o formato para não quebra-lo
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- 06/09/2021 19:48:29
"Ele não era necessariamente ruim, mas voltamos a velhas discussões como banimento no Tron, que a base Ux é muito forte, que o formato precisa de uma base de mana mais eficiente para os decks aggro e etc. Ou seja, não resolve o problema fundamental do formato, que é o DESENVOLVIMENTO!"

Se você bate o dedinho e depois toma uma facada vc não tira a faca do segundo ferimento pq vai voltar a pensar no dedinho topado? Se vc quer ver o Pauper morto e enterrado larga Chatterstorm aí, se não se faz necessário banimento sim.
(Quote)
- 06/09/2021 09:54:55
Lá vai minhas considerações...

concordo com quase tudo do artigo, porem acredito que BANS são necessarios. Não para corrigir problemas, mas sim para mudar o meta. Inevitavelmente sempre existirá um deck que dominará o formato (mesmo que seja, por exemplo, 5% do meta) e o BAN seria justamente para diversificar. Nada impediria que cartas banidas voltassem em outro ciclo de 'banidas e desbanidas'.

Dito isso é necessario que a WotC dê uma atenção na criação e desing de cartas comuns e escute e dê mais atenção a Comunidade.

Posso ser ingenuo, mas para mim o problemas não são as cartas supracitadas (Chatterstorm, Galvanic Relay, Ephemerate, Atog, Spellstutter Sprite, "Monarca", "Cascata", etc ), Pois gosto do que elas fazem nos seus respectivos decks, mas sim a falta de respostas efetivas para elas.
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